Fim do espectáculo, cena 38, fecham-se as cortinas.
Sem aplausos, sem gritos, apenas choros e o som da respiração de uma centena e três dezenas de pessoas.
Subi no palco, coloquei-me ao meio e contei a minha história de amor.
No meio da história, percebi que ela transformava-se em um pesadelo.
Da plateia eu só enxergava olhares esbugalhados, bocas abertas, olhos tristes de pessoas que se identificavam com a história e muita, muita pena de quem estava ali... em cima do palco pouco iluminado, contando sua tragetória em poucos anos de vida.
Acho que o que mais surpreendeu a todos, foi que enquanto setenta e cindo por cento da plateia já estava aos prantos, eu não derramava uma lágrima.
Eu não demonstrava nenhum indício de que a qualquer momento ia desmoronar em cima do palco, com aquela pequena luz focando em mim.
Uma luz fraca, assim como já estava o meu coração.
Acho que por isso não derramei uma gota de lágrima durante o percurso, eu já estava fraca, parecia que seca também ... depois de tanto sofrer, chorar... eu simplesmente não suportava mais a ideia de deixar uma lágrima escorrer do meu rosto.
Portanto, no último ato, quando cento e vinte e nove pessoas já me olhavam com pena, choros e vontade de me falar que tudo ficaria bem... uma me chamou a atenção.
Ao canto esquerdo, na cadeira do fundo, um dos locais mais escuros, estava alguém sem coração, sem lágrimas, sem sofrimento, sem dor e sem nenhum indício de que fosse derramar uma lágrima.
Disse as minhas três ultimas frases olhando em seus olhos, e então uma lágrima seca escorreu de meus olhos assim que as cortinas começaram a se fechar, porém à tempo de eu ver que a mesma lágrima seca, de dor e angústia que escorreu de meus olhos, escorria dos olhos dessa pessoa também.
Fim do trigésimo oitavo ato, as cortinas se fecharam, e eu me afundei em dor novamente.
Postado por
A. Duarte
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