Pegue tudo que te faça lembrar e coloque em uma caixa. Pronto, já começa daí.
Não, se você acha que é só fazer isso e o seu coração vai dar uma guinada pra frente: não é! Mas já ajuda.
Sabe porque ?
Porque o desapego começa aos poucos.
Então vamos lá, vou contar uma história.
Eu era apegada, apegada demais. A todas as nossas idas e vindas, a todas as fotos espalhadas pelo quarto, a todos os bichos de pelúcia em cima da cama, a todas as suas blusas esquecidas por aqui, a cada moldura dos porta-retratos que você me deu, ao perfume que você mais gostava em minha pele, às roupas que você sempre me elogiava quando me via usar, à cor de esmalte que você sempre sugeria que eu usasse.
Achei que se eu pegasse os porta-retratos e tirasse as nossas fotos e colocasse outras, daria certo. Mas não deu, a dor de excluir o objeto do meu lar, era maior que tudo. Achei que abraçar outros ursos de pelúcia ao dormir, me faria não sonhar com você. Mas eu acabava era não dormindo. Achei que se eu trocasse algumas coisas de lugar , daria certo. Mas nada funcionava, e isso porque eu não tirava e jogava fora, eu só mudava de lugar. Então de uma forma ou de outra, estaria sempre presente no espaço ao qual eu pertencia.
Certas vezes, eu entrava e saia do quarto sem nem me tocar nas varias fotos pelo mural, nos ursos pela cama, no perfume que eu estava usando ou em qualquer outra coisa. Mas aí chegava a hora de dormir e eu me via usando uma camiseta sua, esquecida aqui tempos atrás. E nessa hora o meu sub-consciente trabalhava de tal forma que eu jurava que podia sentir seu cheiro na camisa. E, na verdade, o máximo que eu sentia era cheiro de sabão em pó! Afinal, a camisa já tinha sido lavada dezenas de vezes então era totalmente impossível eu estar sentindo o cheiro dele, mas era a porra do meu sub-consciente trabalhando pra fazer com que a lembrança - e desse modo, a dor também- voltassem à tona.
Daí eu olhava pro lado, e me via cercada pelos ursos de pelúcia com os nomes loucos que inventávamos. Desviava o olhar e ele acabava parando nos meus murais, onde umas três dúzias de fotos nossas estavam penduradas.
Merda!
Lágrimas vinham e eu não conseguia contê-las, a dor aumentava e eu me encolhia sob os lençóis, achando que se eu diminuísse
a dor talvez começasse a ficar pequena também. Mas eu estava enganada. Nada adiantava. Minhas lágrimas viravam um rio de águas que caíam dos meus olhos, e pequenos ruídos vinham juntos que acabavam se transformando em soluços desesperados pedindo por paz no meu coração.
DESAPEGUE-SE.
Essa dor era ruim demais.
Eu sempre fui contra aos desapegados, mas deixe-me explicar o porque de eu ainda ser: eu sou contra aos desapegados a tudo; ao trabalho, aos amigos, à vida, aos seres humanos, aos animais, aos sentimentos, às cartas, às roupas velhinhas e puídas mas que você tem há anos. Agora, aos que se desapegam de algo para libertarem-se de outra coisa, aí sim, desses eu sou a favor.
E neles também me inspirei. Nos que se desapegam para se libertar.
Foi o que eu fiz.
Decidi começar a encaixotar tudo: fotos, molduras, ursos, presentes. Devolvi o que era dele, e encaixotei o que veio dele. O perfume que ele mais gostava acabou e eu decidi não comprar outro frasco. O esmalte que ele gostava nem era a minha cor predileta, então sumiu da minha gaveta também.
ENUDAÇA-SE CASO SEJA PRECISO.
Caso tudo ainda te lembre ele, empacote e encaixote tudo e em seguida mande tudo por correio sem remetente, você se sentirá livre.
Eu, enfim, me senti em paz.
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